Conferência BEFW: Moda, Sustentabilidade e a COP30 no Brasil 

Publicado em 13 de agosto de 2023

No 1º painel da aguardada conferência de abertura da 7ª edição da Brasil Eco Fashion Week, Rafael Morais, diretor executivo da plataforma Brasil Eco Fashion, realizadora do evento, apresentou o primeiro painel: Moda, Sustentabilidade e a COP30 no Brasil.  Também chamou ao palco como mediadora Marina Kalif, Consultora e Coolhunter conhecida por sua paixão em capturar tendências em sintonia com a Amazônia.  A convidada do painel Moda, Sustentabilidade e COP30 no Brasil foi Mayra Castro, Designer de conexões e parcerias e Fundadora do Invest Amazônia.

A questão que permeou esta conversa foi como explorar uma moda amazônica glocal, ou seja, enraizada na herança local, mas conectada às tendências globais? 

Mayra se apresentou compartilhando os marcos de sua jornada, incluindo a formação em Direito no Pará e mestrado em Direito Internacional Europeu em Genebra. Também relatou seu papel em projetos globais, como a Assembleia Geral da ONU e missões ligadas ao desarmamento nuclear, mas a virada impactante por meio de um trabalho em combate ao tráfico de mulheres e meninas na Índia, que a tirou do universo de pesquisadora para o trabalho de campo. “Assim surgiu a necessidade de trabalhar com elaboração de projetos, criando uma ponte entre a linguagem dos setores e a realidade concreta”, disse. Com mais de 15 anos de expertise em design de projetos e tradução cultural, Mayra é fundadora da Invest Amazônia.

Marina Kalif questionou sobre desafios e oportunidades trazidos pela COP30, que colocaria o Pará no centro da atenção global. Destacou as tendências sociológicas que moldam a moda. Isso levou Mayra a ressaltar a importância do posicionamento estratégico da Amazônia. Trouxe à tona a história do Brasil nas decisões climáticas internacionais desde a Eco92, mas levantou o problema de que Amazônia não é conhecida pelo Brasil. Mayra justificou que muitas vezes o país se refere à Amazônia sem reconhecer a própria região Norte. “O desafio de se comunicar diretamente com o Brasil é grande e meu trabalho está focado no mercado internacional”, disse.

Mayra comenta sobre o histórico central da Amazônia no cenário global, desde os dias ciclo da borracha — que foi fundamental para o desenvolvimento da indústria automobilística — até o desejo atual de todos em explorar o termo Bioconomia. 

Planejamento e desenvolvimento de projetos 

A conversa evoluiu para a importância do evento em expor a floresta amazônica a um público global.  Mayra enfatizou que a COP30 traz a necessidade de superar barreiras linguísticas, compartilhando a importância de falar inglês para estabelecer interlocutores estratégicos e ampliar o networking internacional. E foi pragmática ao determinar a estrutura para o sucesso de empreendedores no evento internacional tem como base: planejamento, conexões sólidas e a determinação de fazer acontecer. Ela destacou a importância da organização e de estruturar projetos como base para transmitir uma narrativa própria, sem intermediários. Portanto, é crucial alinhar seus projetos com os valores locais autênticos. 

Mayra compartilhou insights sobre a dinâmica atual da COP30, enfatizando a necessidade de adaptação rápida às mudanças em andamento.

A mediadora Marisa fala da Amazonia conectada com o mundo. Desta forma, trouxe à tona a necessidade de recuperar o protagonismo da Moda da região, evitando a reinterpretação por olhos estrangeiros. Ela destaca que o primeiro livro de moda foi criado em Belém, em alusão ao aniversário da cidade, que apresenta a estética local com influência da Europa. E concorda que entender as macrotendências como design regenerativo e moda e ancestralidade são temas que envolve diretamente o setor. No entanto, pensa que o problema do “complexo do vira-lata”, ainda é um grande obstáculo para empreendedores.  

Mayra concorda que a narrativa é de que o Norte sempre foi a periferia do Brasil, mas que a Amazônia é o centro do mundo. Por isso, reforça a necessidade de transformar essa percepção em um orgulho cultural positivo admitindo que o vira-lata é simpático, inteligente, ágil, amável e saudável. “Então, é esse lado positivo que devemos nos apropriar. Somos a região mais cobiçada do mundo, somos a última fronteira do Brasil original, todos querem nos ouvir. Somos árvores deste território e, lembrando da fala do meu pai, ‘fale da sua aldeia e seja universal’”. Desta forma fez o chamado aos amazonidas para que se apresentem como embaixadores de sua cultura que possui contribuições valiosas para a solução de problemas globais.

Marisa endossou, compartilhando sua própria descoberta da região através de pesquisas de mestrado. Ela destacou a crescente tendência de se retornar às raízes, valorizando a produção local e as habilidades manuais. Assim, viu a capacidade da Amazônia de oferecer produtos locais únicos que têm o potencial de encantar mercados globais.

Mudar da mentalidade do commodity para entrar no sistema valor

A “Amazônia que inspira”, marca e projeto de Mayra, nasceu para pensar novas economias. E a alavancagem do projeto foi a partir de empreendimentos femininos em comunidades tradicionais. Ela explica que na primeira etapa houve um diálogo sobre valorização cultural, com objetivo de ouvir estas mulheres sobre suas expectativas. “Trabalhamos o desenvolvimento consciente. Por isso, o projeto é 40% focado em empreendedorismo e gestão, 40% inteligência e desenvolvimento emocional e 20% identidade amazônica e valorização cultural”, explicou Mayra. O projeto foi implantado na comunidade do Tapajós, com raízes na civilização pré-colombiana. Uma riqueza histórica que pode estruturar a Economia Criativa com a ideia de replicabilidade – com produção de bens e serviços — se isso fizer sentido para as pessoas envolvidas. 

“O principal é entender a diferença entre preço e valor. Precisamos dar a atenção ao valor porque valor não tem preço”, diz. Por isso, a necessidade de olhar para fora e se inspirar. Olhar o mundo e olhar o marketing porque estamos vendendo o conteúdo da Amazonia ainda como commodity. Para Mayra, é necessário investir em branding. Para isso, o desenvolvimento de produtos tem que ser culturalmente aceito, na mentalidade local e no mercado global. Marisa concordou que compreender as macrotendências, como o design regenerativo e a moda ancestral, é uma referência intrínseca da região. 

Mayra encerrou o painel com um chamado à ação coletiva de forma clara: elevar as vozes da “nossa aldeia” para um coro universal. Ser embaixadores da rica cultura amazônica, compartilhando suas histórias, contribuições e soluções com o mundo. “Cantemos a nossa aldeia para que a gente se torne universal. Temos que ser embaixadores da nossa cultura. Todos fazemos parte desta missão”, concluiu. 

 

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