por Jackson Araujo*
Refletindo sobre a frase que criei em 2019 e que serve de mote para todas as reflexões sobre as ações que queremos fortalecer em nossas pesquisas e inteligência compartilhada – “A Moda não é mais sobre roupas, mas sobre pessoas” – me passa na memória como um filme de terror aquelas cenas que marcaram a queda do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, 2013, onde foi descortinado o hediondo espetáculo da moda, revelando a morte de mais de mil trabalhadores de um aglomerado de confecções em condições sub-humanas de trabalho. Ali me pareceu cada vez mais claro que a moda não poderia mais ser sobre roupas, mas sim sobre pessoas.
Como a Economia Afetiva valoriza a pluralidade de corpos na construção de uma sociedade mais justa
Para fortalecer essa ideia, o fio condutor de nosso trabalho no festival multicultural Trama Afetiva é a propagação da Economia Afetiva – e seus desdobramentos em novas perspectivas da moda sustentável – como viés ativista para a construção de uma nova tecitura social. Buscamos compilar conhecimentos e aprendizados sobre lideranças na sustentabilidade para além dos resíduos sólidos, amplificando assim nossa linha de pesquisa para um ambiente mais humano, trazendo para a roda as corporeidades e discursos políticos que sempre foram desprezados pela moda. E é no intuito de transformar os nossos privilégios em responsabilidades que buscamos perceber o quanto, como sociedade civil organizada, podemos atuar na micropolítica para a transformação dos muitos mundos que nos cercam – nossos negócios, empresas e marcas – em lugares mais diversos, inclusivos e justos.
A ideia aqui é propor uma reflexão sobre como a Economia Afetiva é uma prática atrelada à sustentabilidade já que a biodiversidade só poderá ser preservada e reconquistada se colocarmos as pessoas no centro dos processos de regeneração.
A moda sustentável sob a perspectiva das micropolítica de transformação
Acreditamos que o desafio desses tempos que se configuram é a construção de um novo tecido social, que visa elaborar novas habilidades para um futuro que: seja livre do ciclo da pobreza; valorize a ideia de corpos fluidos, que questionam discursos tradicionais sobre identidade de gênero a partir do entendimento do não-binarismo; olhe a música como estratégia de resistência e integração da diversidade cultural, por meio da inclusão e da equidade de gênero; adote a tecnologia humanizada, que utiliza a inteligência emocional para criar conexões verdadeiras por meio de aplicativos, convidando cada pessoa a acionar seu modo ativista e usar a moda como terreno para implementar mudanças sociais, comportamentais e políticas.
Por fim, deixamos um convite para que nossos esforços enquanto agentes da Economia Afetiva sejam ações coletivas e estruturantes cada vez mais potentes para afetar a sociedade civil organizada a agir por mudanças que assumam a moda sustentável como uma micropolítica de transformação, entendendo micropolítica dentro dos seguintes aspectos:
• Redescobrimento dos pequenos coletivos, das associações, do local;
• Entendimento do diverso que é nossa sociedade;
• Admissão de que o verdadeiro político é o sujeito que cuida de si e por isso pode cuidar dos outros.
Hiperlinks
1. ECONOMIA AFETIVA
https://medium.com/@jacksonaraujo/a-economia-afetiva-de-jackson-araujo-cec12e85040
2. TRAMA AFETIVA
https://www.youtube.com/watch?v=-NODbF4sx5E
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