Rumo à COP-30: a Moda Sustentável Brasileira como um Motor para a Bioeconomia

Publicado em 04 de dezembro de 2024

A bioeconomia é um modelo estratégico para enfrentarmos os desafios impostos pela emergência climática. Ela pode ser definida como o desenvolvimento de produtos e serviços baseados no uso sustentável de matérias-primas biológicas – como plantas, sementes, algas, cogumelos, microrganismos e resíduos orgânicos.

Com biomas ricos como a Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga, e anfitrião da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-30, em 2025, o Brasil tem vantagens para capitanear a tendência. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, “O Brasil deve liderar a bioeconomia global, preservando a Amazônia e promovendo o uso sustentável de seus recursos naturais.” 

“Bioeconomia e Cooperação” é o tema da 8ª edição do Brasil Eco Fashion Week, escolhido como resultado do diálogo contínuo que o evento vem estabelecendo com a região amazônica desde 2023. Integrar bioeconomia aos painéis e atividades do evento, também contribuirá para movimentar pautas que serão debatidas na COP-30, e em acontecimentos integrados, como a Cúpula dos Povos COP-30.

E então, na prática, como a moda pode se empoderar desta lógica produtiva e impulsioná-la em escala nacional?

Arte de divulgação do tema da 8ª edição do BEFW: “Bioeconomia e Cooperação”.

O fazer “bio” na moda

Fibras naturais típicas utilizadas nas diversas etapas da produção têxtil, desempenham um papel fundamental na bioeconomia. Na tecelagem, destacam-se o algodão orgânico, agroecológico e agroflorestal, além de variedades artesanais, como buriti, juta e tucum – cultivadas e trabalhadas por comunidades e cooperativas nas regiões do Cerrado e da Amazônia.

O tingimento natural de tecidos cresce em valor agregado quando realizado com plantas nativas como urucum e jenipapo, por promoverem cadeias produtivas que beneficiam comunidades locais. Enquanto o urucum impulsiona a inclusão socioeconômica de pequenos agricultores, o jenipapo valoriza tradições indígenas e práticas extrativistas sustentáveis – o que pode ser mapeado e comunicado ao consumidor. 

O uso de resíduos agrícolas, como cascas, folhas, talos e bagaços de frutas e sementes, assim como diferentes espécies de cogumelos, são alternativas promissoras na produção de biomateriais que substituem o couro e plásticos. Essas inovações já encontram aplicação em roupas, acessórios, e aviamentos, como botões.

Biobotões feitos de matérias-primas biodegradáveis brasileiras, no Espaço Inovação do BEFW 2023. Crédito foto: Agência Fotosite.

A ascensão dos produtos com rastreabilidade

Outro aspecto positivo atrelado à bioeconomia é a contabilização de serviços ambientais no cultivo destas matérias-primas, como a recuperação de áreas degradadas e o sequestro de carbono. 

Essa rastreabilidade agrega valor aos produtos finais e atrai o consumidor consciente, que tende a familiarizar-se cada vez mais com informações sobre pegadas de carbono, água e biodiversidade. 

Paralelamente, mecanismos como créditos de carbono, créditos de regeneração do solo, carbon farming, pagamentos por serviços ecossistêmicos (PSE) e tokenização em blockchains, sistematizam recompensas aos produtores, fomentando o rastreamento e monetização da regeneração ambiental.

Novas abordagens e protagonismos 

Outro diferencial da bioeconomia é seu alinhamento com os princípios do ciclo biológico – contraparte do ciclo técnico, ou industrial – dentro da Economia Circular. 

Por exemplo, ao transformar resíduos agrícolas em insumos para roupas e acessórios biodegradáveis, o setor de moda pode reduzir desperdícios e contribuir para o retorno de nutrientes ao solo — seja por meio de logística reversa e descarte responsável pelo produtor, ou ao incentivar consumidores a compostarem os produtos no fim de seu ciclo.

Produtos biodegradáveis, projetados para durar e, ao fim de sua vida útil, serem compostados, podem oferecer ao consumidor a chance de participar ativamente dessa etapa final. Crédito foto: portalresiduossolidos.com


Essa abordagem diminui a dependência da reciclagem de plásticos – e roupas sintéticas -, que, após décadas de esforços, ainda corresponde a apenas 9% do total produzido globalmente (dado: OCDE, 2019). 

Investir em soluções baseadas nos biomas brasileiros também fortalece a identidade nacional, permitindo que narrativas tradicionais, como as dos povos indígenas e ribeirinhos, sejam resgatadas e desdobradas em novos capítulos contemporâneos.  

A moda, como expressão cultural e setor estratégico, tem um papel fundamental nessa transformação — e o Brasil Eco Fashion Week convoca os amigos e parceiros a se tornarem aliados neste eco-processo!

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