Conferência BEFW: Desafios de inovar e empreender no Norte brasileiro

Publicado em 16 de agosto de 2023

O 4º painel da 1ª Conferência de Abertura da 7ª edição Brasil Eco Fashion Week realizada em Belém, PA, foi mediado por Paula Gabriel, com 10 anos de experiência no Terceiro Setor e idealizadora da Benevolência Consultoria. Os convidados para o painel foram Francisco Samonek, CEO da Seringô, Tainah Fagundes, idealizadora da Datribu, e Robson Torres, gerente industrial da Cia. Castanhal Têxtil, todos atuantes no estado do Pará.

Paula expressou gratidão à equipe do BEFW e elogiou a direção da Conferência pela escuta e pelo acolhimento. Ela introduziu Tainah, empreendedora social amazônida que produz fios e biojoias a partir da borracha, fortalecendo a diversidade socioeconômica das comunidades ribeirinhas. O projeto é impulsionado pelo programa Invest Favela.

“Empreendedorismo envolve criar mudanças e impactos positivos”, diz Paula ao abrir o painel, destacando o papel da inovação e da tecnologia.

Da esquerda para a direita, Tainah Fagundes, Francisco Samonek, Paula Gabriel e Robson Torres.

Negócios que Preservam a Floresta

Francisco, CEO da Seringô, atua em Castanhal, no Pará. Empreendedor social há 40 anos na Amazônia, gerencia uma cadeia de valor sustentável, da extração de látex nativo até a manufatura de produtos acabados. Robson, engenheiro têxtil, tem experiência de 20 anos atuando com fibras naturais. Tainah apresentou a Datribo como um negócio social, relatando como surgiram os primeiros acessórios a partir do reaproveitamento de roupas, antes revendidas pela sua mãe. Desde 2014, a Datribo colabora com comunidades na obtenção de matérias-primas, envolvendo-as tanto no design quanto na produção. Com a borracha amazônica como base, elas desenvolveram fios, tecidos e acessórios.

“Empreender deve ser uma ferramenta de conservação ambiental e de proteção das comunidades”, reforçou Paula.

Francisco discorreu sobre os desafios de trabalhar na floresta, enfatizando a dificuldade de passar conhecimento sobre inovação e o empreendedorismo para uma população com pouca educação formal. Ele compartilhou a sua abordagem para se conectar a essas comunidades, destacando a importância do contato pessoal. Francisco lidera a Seringô, que possui três certificações de tecnologia social entre os 600 emitidos pela Fundação Banco do Brasil. A empresa aproveitou todo o conhecimento dos seringueiros locais, para incorporar tecnologia industrial para, assim, simplificar processos, respeitando as práticas artesanais. Desta forma, as comunidades conseguiram melhorar o processamento da borracha e conseguir produzir com qualidade. Em consequência, a manufatura de utilidades domésticos e acessórios de moda como biojoias e até um novo modelo de tênis sustentável, desenvolvido com a borracha e fibras de sementes de açaí e juta.

Na cadeia produtiva, a Seringô compra a borracha a R$ 3,50 por quilo, acrescentando R$ 10,00 por serviços ambientais. “Isso libera os trabalhadores de depender apenas de políticas públicas. Até porque elas não costumam chegar até lá”, lamentou. No seringal Santa Rita, que está a 72 horas de barco de onde está a Seringô, a empresa consegue gerar renda contínua o que causa ótimo impacto nas comunidades. O foco é no empoderamento das mulheres. Os pagamentos são feitos diretamente para elas, sem intermediários.

“Preservar a floresta requer apoiar aqueles que a habitam,” afirma Francisco, da Seringô, sobre a importância de sustentar as economias locais.

Robson apresentou a Cia. Castanhal Têxtil, uma indústria de transformação especializada em fibras de malva e juta. Ele informou que a malva é uma espécie exclusiva da Amazônia e que a juta foi adaptada ao bioma local graças ao esforço da Embrapa. Também defendeu a necessidade de transformar modelos extrativos tradicionais em práticas de cultivo, garantindo um suprimento estável de fibras naturais.

Os painelistas abordaram desafios, incluindo a logística e a falta de políticas públicas, enfatizando a necessidade de pensar de forma coletiva e cooperativa. Tainah incentivou uma mudança no comportamento do mercado e do consumo em direção a uma perspectiva mais coletiva.

Da esquerda para a direita, Tainah Fagundes, Francisco Samonek, Robson Torres, Paula Gabriel e Rafael Morais, realizador da Conferência de Abertura da 7ª edição Brasil Eco Fashion Week – semana da moda sustentável brasileira.

 

No final, os painelistas compartilham seus sonhos: Tainá incentivou os presentes a abraçarem uma mentalidade coletiva. E fez um chamado aos jovens para continuarem iniciado por eles. Francisco reforçou a importância da resiliência e do envolvimento com as comunidades, e Robson destacou o poder da persistência e da crença na mudança para empreender com sucesso.

O painel terminou com uma nota esperançosa, chamando todos a apoiarem as comunidades e estarem atentos às práticas sustentáveis, lembrando a todos nós do papel crucial desempenhado pelas pessoas que habitam e preservam a biodiversidade da Amazônia.

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