*Por Alice Beyer Schuch
Devemos pensar em moda sustentável e economia circular antes que seja tarde demais. Vamos ver por que…
Por definição, temos “moda”, termo que regula, de acordo com o gosto do momento, o código de vestimenta, modos, comportamentos… A este termo, acrescentamos algo “sustentável” – que pode ser sustentado, que é capaz de ser preservado e mantido. Dois conceitos contraditórios – um sobre transições, outro sobre continuidade – mas que definitivamente deve seguir de mãos dadas.
A matemática é simples…
A indústria da moda é uma gigante que emprega mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo e também é uma das indústrias mais poluentes do planeta. Produzimos cerca de 100 milhões de toneladas de têxteis por ano, e para isso, terminamos nossas reservas de água, poluímos nossos rios com os mais tóxicos pesticidas e produtos químicos, destruímos solo e florestas, usamos altos níveis de energia, poluímos o ar que respiramos e exploramos vidas irresponsavelmente.
Sabemos o quanto a moda pode ser (não)glamurosa… Estamos consumindo nossos recursos naturais e sociais a olhos nunca vistos. E se pretendemos continuar nossa jornada, precisamos incorporar a sustentabilidade em nossos planos de ação. E afinal, somos mais de 7 bilhões de pessoas na Terra, e as previsões apontam para mais de 9 bilhões até 2050!
Definitivamente, se continuarmos assim, teremos que nos mudar
para outro planeta!
Especialistas estimam que em 2030 consumiremos 40% mais água (de onde? Eu me pergunto), e vamos precisar de 200 milhões de hectares adicionais para a agricultura alimentar. Além disso, a menos que decidamos adotar o “nu” como o novo dress-code, também precisaremos de mais roupas – algo como uma demanda adicional de cerca de 15 milhões de toneladas apenas em fibras naturais. E sabendo que a moda é uma das indústrias mais dependentes dos recursos naturais, como proceder dessa forma?
O consumo de moda dobrou nos últimos 30 anos. Produzimos anualmente cerca de 100 bilhões de peças de vestuário, que chegam às lojas semanalmente.
Nós compramos e, como valorizamos pouco cada item, logo o jogamos fora! A prova disso? Em 2014, em Hong Kong, foram descartadas 110.000 toneladas de têxteis – algo como 1.400 camisas por minuto. Nos Estados Unidos, os consumidores de hoje compram o dobro de 20 anos atrás – em 2007, uma média de cada 4 ou 5 dias uma nova compra. No mesmo ano, na Europa, foram vendidos 3 pares de jeans por segundo.
O pior de tudo? Nossa fraqueza tornou-se a principal moeda comercial. Porque? Na verdade, muitas vezes nem usamos o que compramos! Quantos jeans você tem no armário? Quantos deles você usa regularmente? Na Alemanha, um estudo mostrou que 40% do que temos em nosso armário raramente (ou nunca) é usado.
Precisamos pensar urgentemente de forma circular! Pensando em novas perspectivas em design e negócios, onde moda sustentável e economia circular se encontram. Devemos desenvolver ações e orientar linhas que se concentrem na forma circular, pensando no fim do ciclo de um produto antes de criá-lo. Mas não só isso… Não vamos restringir a ideia de economia circular apenas à reciclagem de materiais. Há outros loops, outros setores que também pertencem ao assunto.
A moda circular repensa têxteis, processos, formas de consumo, design e até modelos de negócios que preservam o capital natural, prolongam o tempo de vida dos produtos, capturam o valor máximo dos produtos e estruturas existentes e eliminam o conceito de desperdício.
E falando sobre desperdício… Globalmente, estima-se que 400 milhões de metros quadrados de tecido são produzidos a cada ano, dos quais mais de 60 milhões de metros quadrados são deixados na sala de corte – material suficiente para cobrir San Marino. Além disso, dos 80 bilhões de vestuário produzidos anualmente, estima-se que apenas 20% são destinados à reciclagem em todo o mundo. E o resto?
Será que não há valor em tudo o que descartamos? Ou devemos ser expostos à escassez de recursos primários e volatilidade de preços? Será que não há espaço para o desenvolvimento de novos sistemas, ideias, desmaterialização? Podemos pensar em outras formas de oferecer produtos? Há novas alternativas para essa imensa necessidade de consumo?
Com tantas mudanças no caminho, não é importante pensar sobre o que pode ser feito agora, antes que seja tarde demais? A moda circular sustentável não é uma tendência, é uma alternativa aos problemas atuais, que devem ser urgentemente aplicados caso queiramos avançar.
Como Albert Einstein disse, a insanidade é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes.
Então, pense diferente e venha conosco!
Durante a segunda e terceira edições do Brasil Eco Fashion Week, foram explorados o conceito de circularidade e diferentes alternativas para o Design Circular. Na última edição, tive a oportunidade de ministrar o workshop “Estratégias de Design Circular, Aqui e Agora”, e mediar o painel “Desafios para a Moda Circular no Brasil”. E há mais por vir na quarta edição do BEFW! Fique atento!
Alice Beyer Schuch é brasileira e fundadora da CIRKLA MODO – agência de transformação para a moda circular com sede na Alemanha. Através de seu trabalho, ela impulsiona a divulgacão e prática do conceito de circularidade junto a empresas, organizações e setor educacional na Europa, mas também traduzindo ao mercado brasileiro sua experiência internacional no assunto.
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Referências:
Relatório McKinsey 2011; Relatório WRAP Evaluating new business models in the clothing sector 2013; Livro To Dye For – Is fashion wearing out the world? Lucy Siegle, 2011; Greenpeace News; Greenpeace Study „Wegwerfware Kleidung”; and Fashion Revolution White Paper. Dez, 2015.
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