Neste 7º painel, Rafael Morais, diretor executivo da plataforma Brasil Eco Fashion cumprimenta os participantes da Conferência de abertura da 7ª edição da Brasil Eco Fashion Week (BEFW). Em seguida introduziu o designer Sioduhi, da marca Sioduhi Studio, convidado a compartilhar sua trajetória na moda sustentável.
Sioduhi agradece o convite e expressa sua felicidade em estar presente na BEFW. Ele discorre sobre a sua jornada na moda que teve início em 2018, quando deixou sua cidade natal, São Gabriel da Cachoeira, fronteira entre Venezuela e Colômbia, e se mudou para São Paulo com o objetivo de estabelecer sua própria marca.
Ao chegar em São Paulo, Sioduhi se deparou com uma realidade completamente diferente da que estava acostumado. No entanto, com sua formação em Administração de Empresas e experiência de seis anos, logo começou a trabalhar na capital paulistana. Durante esse período, prestes a ser promovido pela quarta vez, ele passou por um momento muito difícil. “Eu tive duas perdas significativas em minha vida: a morte de um amigo próximo e de um ancião de meu povo indígena”, disse. Esses eventos o fizeram iniciar seu caminho como criativo ainda que não tivesse claro como poderia expressar sua identidade e história por meio da moda.
Ainda trabalhando em gestão de projetos em São Paulo, Sioduhi frequentava um curso técnico em modelagem de vestuário que, infelizmente, por se tratar de um curso prático, foi interrompido em 2020 devido à pandemia. Apesar disso, ele usou o conhecimento adquirido no semestre para começar a desenvolver sua própria linha de roupas.
Sioduhi compartilhou os desafios de se adaptar à nova realidade e às restrições impostas pela pandemia, especialmente para alguém acostumado a estar em contato com a natureza em sua comunidade indígena. Sobretudo a falta da família, citando a mãe. Assim, além de desenhar, modular e costurar as roupas, ele se concentrou em transmitir suas histórias e mensagens através das criações.
“Era uma coleção super simples. Gravei em meu próprio quarto uma história cheia de memórias: de onde eu vim e quem eram meus antepassados. Fiz tudo isso na língua tucuna”, disse. Foi o primeiro passo que deu na época. A marca ainda se chamava Tapuia. A partir desse esforço, em novembro de 2020 ele lançou sua primeira coleção, chamada “Bucuri”. De imediato sua marca foi acolhida e compartilhada. “As pessoas acreditaram no que estava além da roupa”, confidenciou. Neste momento a marca se tornou Sidouhi Studio.
O convite para participar da BEFW
Sidouhi relata que estava indo para a sua segunda coleção, sobre a resistência milenar dos 23 povos indígenas do Alto Rio Negro. A partir daí começou a encontrar pessoas, parentes indígenas que o ajudaram a desenvolver a coleção. A participação na BEFW foi um ponto de virada. E em 2021, na quinta edição da BEFW, Sidouhi Studio apresentou um Fashion Film. Na sexta edição, as coleções foram desfiladas, mas apresentadas ao público apenas em vídeo, por causa da pandemia.
Sidouhi explica que a marca pisou na passarela em 2022 com a coleção ManioQueen baseada na tecnologia Maniocolor (corante têxtil natural à base de mandioca). Essa foi uma das possibilidades conquistadas com a aceleração do programa Inova Amazônia, do Sebrae Nacional. Na sequência, apresentou a coleção em Belém em estande de Salão de Negócios do Sebrae. Em 2023 a marca desfilou em Manaus e assim foi crescendo de forma orgânica. Destacou que, por ser pequena, nunca recebeu publicidade paga dentro da marca. Por fim, reconhece que participar da BEFW ampliou o seu alcance colhendo um grande resultado. “Nós fomos vistos não em São Paulo, mas também no Amazônas. Nosso trabalho chegou até a minha comunidade”, disse.
Rafael destacou que o Sebrae Nacional também apoia a semana de moda sustentável BEFW e que ele vem acompanhando alguns projetos de inovação que estão no programa Inova Amazônia. Ele citou a Da Tribu, que participa da semana de moda e também fez parte da conferência.
Rafael comenta que descobre histórias como a Sidouhi através da curadoria do evento anual Brasil Eco Fashion Week. “É a partir das inscrições que as marcas são avaliadas pela curadoria. E pra gente a moda deve ir além do bom design, além da imagem, da roupa em si. As mensagens são muito importantes, é a informação que a empresa, a marca ou o produto pode passar”, comentou. Sioduhi destaca a importância de eventos como a BEFW, que não apenas promovem a moda, mas também compartilham mensagens importantes sobre sustentabilidade e identidade. O evento trouxe um alcance não pela quantidade, mas pela qualidade.
Entre as novidades, ainda para 2023, Sioduhi fala sobre o recebimento de um prêmio de Inovação e do reconhecimento como designer com sua primeira residência artística. E citou possibilidades de novas parcerias com lojas colaborativas. Além disso, em 2023 a marca vai aumentar a paleta de cores da Manuí Color. No último desfile, havia duas cores. “Em dezembro, se tudo der certo, e a equipe tá trabalhando para isso, creio que vai ser um momento de não mais apresentar uma coleção tão comercial. Creio que, enquanto designer, vou estudar e aprofundar para aplicar minhas habilidades com novas técnicas”, revelou.
Impacto social em sua comunidade
Ao longo do tempo, a marca Sioduhi Studio continuou a crescer organicamente, com foco na qualidade e na autenticidade. Ele destaca a importância de ter indígenas em sua equipe, desde a concepção das coleções. “Todas as pessoas estiveram pensando e trabalhando junto comigo, executando várias atividades dentro do estúdio até o desfile”. Sidouhi informou que a sua equipe indígena atua desde a produção executiva, passando pela beleza, várias atividades que exigem a produção de uma coleção e de desfile. Além disso, o roteiro, captação e edição de Fashion film também são realizados por indígenas. “Conforme a gente vai crescendo, a gente também vai redistribuindo os ganhos, impactando a minha comunidade”, disse.
Rafael reforça que a cadeia produtiva tem que ser forte para que a marca se torne forte. Para encerrar, pede que Sioduhi dê conselhos aos aspirantes a designers de moda. O estilista incentiva a equilibrar criatividade e gestão. Sobretudo cuidar das pessoas envolvidas. E defende que todos continuem a acreditar em seus sonhos enquanto compartilham suas narrativas autênticas.
Rafael agradece a Sioduhi pela participação e pela inspiração que sua jornada trouxe ao evento. O realizador da Conferência Conectando Brasilidades conclui a conversa enfatizando a importância da moda sustentável e do crescimento consciente no setor. A sessão é encerrada com a promessa de futuros encontros enriquecedores.
0 comentários