HUBs Criativos de moda na Amazônia: conexões e desafios

Publicado em 16 de agosto de 2023

Um resumo do 5º painel que reuniu vozes influentes que compartilharam perspectivas e insights sobre HUBs criativos de moda e design em 10 de agosto de 2023 na 7ª edição Brasil Eco Fashion Week (BEFW) na região Norte do país. O evento foi realizado no SENAI, Unidade Getúlio Vargas, Belém, Pará. Os desfiles e workshops da BEFW estão programados para serem realizados em São Paulo, em 9 e 10 de dezembro.

Entre os convidados do painel, Isabela Canto, e Naisha Cardoso, idealizadoras do Hevea – HUB, trouxeram à luz a incrível jornada do movimento que reuniu criativos e abriu o mercado de moda empreendedora em Belém, PA.

Marysol Goes, consultora de inovação em Bioeconomia Amazônica, destacou o trabalho que ela vem realizando na Fundação Amazônia Sustentável (FAS), enquanto Rafael Morais, diretor executivo da plataforma Brasil Eco Fashion (BEF) idealizador da semana de moda BEFW, inspirou a audiência com sua visão apaixonada sobre a moda sustentável que, nesta edição, tem “Conectando Brasilidades” como tema.

Em sentido horário: Rafael Morais, Marysol Goes, Isabela Canto e Naisha Cardoso.

A importância de pertencer a uma comunidade

Isabela falou sobre a origem da Hevea-HUB em 2019, impulsionada pela carência de um mercado autoral de moda em Belém. Ela revelou que, apesar da qualidade dos produtos, os empreendedores se deparavam com desafios comerciais e lacunas de conhecimento. Desde a ausência de logos e etiquetas nos produtos, até a falta de conexões com consumidores, os obstáculos e os problemas eram comuns.

A ideia inicial de Isabela e Naisha era criar um marketplace. No entanto, o projeto evoluiu para algo mais profundo: uma comunidade de marcas. Isabela destacou que, após a pandemia, a dinâmica se transformou em consumo digital, porém houve anseio de voltar ao contato humano, culminando no estabelecimento do HUB com 25 marcas que se revezem em um encontro bimestral. Além disso, há encontros regulares, onde os empreendedores compartilham suas experiências e soluções.

Rafael, por sua vez, falou sobre como gerar força para as pequenas empresas. Em sua experiência, o primeiro passo foi conquistar a união para enfrentar os vários desafios de empreender. Ele destacou que o tema da conferência “Conectando Brasilidades” reforça como a BEFW conecta empreendedores das outras regiões do Brasil à Amazônia, utilizando a moda como veículo para expressar a cultura, a arte e a sustentabilidade. Rafael também explicou que os desafios está sujeito também a um país com histórico de instabilidade econômica.

Marysol destacou a importância de posicionar a Amazônia no centro do debate, resgatando sua importância cultural e criativa, além de seus ativos ambientais.

O hub de Inovação em Bioeconomia Amazônica, lançado em 2020, visa criar conexões para soluções eficazes. Ela informou que, ao longo de 15 anos, a FAS vem estabelecendo negócios inovadores na Amazônia, promovendo colaboração e cooperativismo.

A FAZ explicou sobre o desenvolvimento de competências das populações indígenas e lideranças na floresta para difundir a economia verde. Sobretudo, incentivando a participação política em processos decisórios no âmbito estadual, com destaque para a inclusão de jovens e de mulheres no tema bioeconomia. Ela afirmou que essas frentes de ação, conectadas, podem ajudar a destravar recursos para a Amazônia.

Em um cenário de crise climática e perda da natureza, o hub emerge como uma força positiva de mudança, promovendo a bioeconomia inclusiva. A FAZ tem programas estruturados e contínuos de apoio a lideranças na base. “Uma comunidade distante duras horas de Manaus, com uma governança social forte, em 10 anos transacionou de uma economia extrativista predatória, para uma economia regenerativa a partir de turismo de base comunitária”, revelou.

As várias amazônias que o Brasil desconhece

Certamente, as pessoas ainda não entendem que existem várias Amazônias como, por exemplo, a urbana, a rural, a quilombola, a remota, e elas têm que estar refletidas numa esfera nacional. “Queremos fortalecer as vozes no desenvolvimento de um Plano Nacional da Bioeconomia, considerando as particularidades e especificidades das várias amazônias”, disse Marysol. Ela reforçou a necessidade de refletir as várias facetas da região em um Plano Nacional de Bioeconomia. Enquanto isso, Rafael reforçou que o BEFW continua a conectar diferentes vozes regionais, enfatizando a capacidade da moda de unir as narrativas.

Isabela levantou outro ponto: o foco da Hevia-HUB é o capital intelectual. Para ela, não funciona colocar a moda e o design em pauta, sem falar do processo. “A forma do criativo da Amazônia criar é o processo”, disse. Não somente na confecção de roupas ou joalheria. Ela deu como exemplo o tucupi, derivado da mandioca, que passa por muitos processos para chegar a este produto ícone da gastronomia amazonense. “Design é processo, seja na moda ou em outro setor criativo”, reafirmou.

Desafios de empreender no setor criativo

Para Isabela, o grande desafio de empreender é a logística como altos custos no frete e o acesso a materiais. Além disso, falta investimento. Ela afirmou que os financiamentos não chegam ao pequeno empreendedor que ainda trabalha em regime de subsistência e que enfrentam a falta estrutura para desenvolver as empresas.

Ela explicou que muitas vezes não há nemCNPJ por falta recursos, esclarecendo que, apesar de estar na pauta mundial, o agente criativo amazônico não está sendo protagonista.

“Qualquer solução que não inclua a voz do povo amazônico não faz sentido”, afirmou Isabela.

Rafael também observou que as dificuldades são amplas. A logística em outras cadeias produtivas são precárias e obstruem o desenvolvimento por todo o Brasil. “Isso só aumenta a dificuldade das pequenas empresas em acessar financiamentos”, disse. Por sua vez, Rafael busca com a plataforma de moda e a realização da BEFW conectar pessoas e regiões, estimulando soluções em uma esfera social, econômica e ambiental.

Marysol destacou que muitos querem investir na Amazônia, mas não querem respeitar o tempo da natureza, a sazonalidade. Para ela é preciso falar sobre a importância do ‘capital paciente’, que entende particularidades e gargalos. “Por isso, nosso trabalho também é de educação para o investidor para estas novas economias. Quem está disposto a fazer investimento de longo prazo com retorno de longo prazo? Temos esperança em uma economia mais justa e mais humana”, afirmou.

O painel se encerrou com um chamado à ação, lembrando a todos que os desafios podem ser catalisadores para ampliar os negócios de maneira consciente e sustentável.

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